sábado, 13 de março de 2010

Descompasso

Galho frouxo do meu tronco
Vai e vem na brisa
Solta lascas e folhas
Tornando-se calvo
A cada balanço
Que o leva.
Pobre podre galho
Tão ralo sem ramos
Que já sem planos
De florir vem se mostrando.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Colorações

(09 de Março de 2010)

Todo o chão coberto
De tintas em cartas;
Cores que não cabem
No meu apartamento.
Chamem-me de kitnet,
Mas sou deveras pequeno
Para este tom...
Ou talvez seja culpa do tom certo
Que não me pintou.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Guelra

Diz, Iemanjá
Da minha fauna;
Diz da minha forma coralina
E conta como tão peixe
Cá em terra estou.

Diz, Princesa de Aiocá
Do meu paraíso astral
Submerso.
Diz das minhas guelras
Tão aquáticas
Aqui, apáticas
No fundo do ar.

Diga ainda agora
Que há onda
Na minha boca a tocar.
Diga enquanto
A mata não me dominou.
Diga, que 'inda sou teu filho,
Rainha do mar.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Em obras

Só o que corre na veia do trator
É o gerúndio
Aplainando pó
Tornando o livre chão
Num marasmo compacto.
Só o que faz o motor
É um duro calo de grãos
Cuja única firmeza
Está em si mesmo.
Só o que pensa a terra
É ser pedra
Sendo vão.

terça-feira, 2 de março de 2010

Quase vinte andares

Somos, enfim, eu e a mariposa.
E pobre dela, morta, que não pode mais voar.
E pobre de mim;
Eu nunca soube voar.

Poema de amigo

Pelas madrugadas há vizinhanças;
Vizinhos de quarto, de jardim
De varanda e de cigarro.
Vem vizinho, debruçar no parapeito
Vem matar o sono à janela.
Vem dormir na minha cama
Agarrado ao travesseiro
Ao rosnar de sonhos
E tilintar do tráfego afora.
Vem revirar contos tidos
Ao verso de gargalhadas.
Vem rasgar fronhas
Enquanto a novela passa
E passa o café
Ao som do nosso silêncio.
Vem ser minha parede
Que serei teu armário.