domingo, 30 de maio de 2010

Areno

Estes são os versos de um touro de arena;
Um leve, negro touro.
Os versos de um que de arena nada sabia.
Versos leves de um dia de arena
Que de areia no céu
E palmas batendo a cascos
Não se sabia.
Estes versos serenos ensurdecidos no céu da arena
Que de areia e agito vermelho
Fizeram-se, sem saber.
Estes versos lentos ao som sereno
Do agito cândido de vermelho na areia
E a areia nas palmas de cascalho
A se agitar.
Estes, os versos vermelhos
De agito sereno
Mergulhados na areia
Ensurdecendo ao cascalho
Enroscados na areia vermelha,
Sem saber da prata da arena
E seu brilho leve, negro
Que de um touro podia restar;
Ao perene sereno veneno
De areia tingida
Na arena que só de vermelho instigara
E só em vermelho poderia se manchar.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Escrever

Para passares um rio
Necessitas de pedras
Entremeando a água.
Salta-lhes entre ligeiro e complexo,
Espirra umas gotas de corredeira
E alisa, eventual como um gracejo, o molhado.
Nunca passes um rio
Como quem o salta,
Pois sem um pingo no corpo
Simplesmente o cruzaste;
Também nunca passes
Como quem o nada,
Pois ensopado falhaste.
Passe um rio
Bem por cima da orla
Ali, no seco e aguado,
Que intercala o fundo e o espaço
Como uma serpente espelhada
A te passar.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Poesia em gotas

(24 de Maio de 2010)

Da fita lambendo o chão
Ao disco rodando em risco
Rarefeitas no vinho
Vagueiam televisivas
Radiofeitas
Poesias.
Do jornal ao quadro
Compactas poemas manchadas
E MPB modernista
A regingar.
Do rasgo na roupa à linha de bronze na pele
Tudo pinga de uma arte
A ricochetear.

Nada

(20 de Maio de 2010)

O único pragmatismo
Que não chega ao fato
E morre conciso
Numa piscina turbulenta.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Revertério

Façamos deste momento uma luz.
Dentre as cartas restou um cigano:
Ele transforma minhas letras
Num epitáfio em jazz
E teu ventre em savana.
As cômodas viram frangalhos
Nas mãos de meus calos
E as gavetas de meias
Rodam em manadas
No corpo de teu chão.
Enfim morremos de tanto tarô
E agora na cova buscamos os novos destinatários.

A fada chamada de bruxa

(De 20 de Abril a 05 de Maio de 2010)

Pense João e Maria de mel
Pingando açúcar no bosque.
Derretem feito melado
Nos pedregulhos da estrada,
Secando a caramelo
Num sol de verão.
João e Maria, assim,
Vivem muito melhor numa casa de doce
Do que tramitando feito goiabada
No meio de queijo
Entre prato e prataria
Numa enjoada mesa de jantar salgado.

Lua

(04 de Maio de 2010)

Nesta noite meia de luar
Restei completo.
Este riso velho basta
Pro meu banho
Este rio pastoso serve
Em meu deleite.
Não preciso dela cheia
Basta uma tigela leitosa
Escorrendo nos dedos
Metade a minguar
Em mim.

Golgota

(28 de Abril de 2010)

Hoje sou um cão
Num ringue de grades de lama
Na falta de ossos achei
Umas lascas de madeira
Uma caveira e pregos.
Malditos esses ossos divinos!
Joguem-lhes cá, na merda,
Sujem-lhes no fervor de minha língua
Cravem-lhes cá no meu estômago.
Ou que seja mesmo só a madeira corroída!
Comerei um farto prato de lascas e pregos.