terça-feira, 13 de outubro de 2009

Rebeca

Rebeca era do tipo
De tango a se dançar
Era alma de poesia
Dentro de um violino.
Acendia os holofotes
Quando seus saltos vermelhos
Tocavam o piso de madeira.
Tinha os olhos de um chacal
Em noite de caça
E o sorriso de loba
Sob o luar.
Rebeca e seus seios
Haviam na imaginação
De todos os homens no recinto,
Mas os seios de Rebeca
Não eram em vão:
Eram de densa mulher,
Das que arrastam vestido
E bordam os olhos com prata
Andando nas bordas da cidade.
Finda a dança de Rebeca
Ia a noite começar
E toda aquela mulher exposta
Em pele que não era sua
Ia fazer outra dança
Sob o vento
Que lhe batia à janela.
E esmurrava o batente
Gritava a ventania
Balançava a cortina
Antes de enfim se fechar.
Pois quando fechava,
Fechava à navalha:
Rasgada a cortina
Ia se vingar do frio
Cortando o vento
Cessando o dançar.
E finda essa dança
Ia Rebeca às águas,
E se afogando no banho
Ressuscitava.
Rebeca rasgou-se na vida,
Cortou-a em retorno
E fez-lhe chorar.
Rebeca não chorou na vida;
Deixou que a vida chorasse nela,
E coberta de lágrimas se banhou.

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