domingo, 28 de novembro de 2010

Verde abacate II

(22 a 27 de Novembro de 2010)

Se pintasse um abacate
Pincelaria água embebida em frutas do abacateiro.
Se me travestisse
Seria pela noitada.
Nada pelo quadro ou corpo:
Simplesmente far-me-ia pincel e echarpe;
Um pincel bem pomposo
E uma echarpe bem verde,
Só pela delícia de fazer.
Só, simplesmente.

domingo, 21 de novembro de 2010

Agenciamento

'Tens o beneplácito?'
Pergunta-me estrito o atendente.
'Tenho bonança!'
Respondo esguio.
Mas vontade de espírito
Basta apenas na fila.
Cá no caixa é preciso licença,
Que desprezível seria se requisitada
Entre as linhas de direção do pré-caixa.
Até a velhota com preferência
Soa-me meio desaforada.
Mas cá não basta filar-se à vontade.
Benefício requer contrato
E o contrato me pede resquícios
De que não posso me abster.
'Bem' - suspiro;
Resta-me então caçar um lugar
Que file beneplácitos e encaixe bonanças.
'Com licença.'

Verde abacate

(17 de Novembro de 2010)

Queria um dia de Cesar,
De
veni, vidi, vici.
Queria um trigal louro
Num dia ventante;
Um dia de Hollywood,
Um vestido de Marilyn
E um amante vultoso.
Queria ser Isle of Wight
E Vasco da Gama
Ao mesmo tempo.
Queria ser fada
E uma barra de chocolate.
Queria quereres de sabiá
Que sabia só poder viver
Num abacateiro,
Saudoso da gaiolinha.

Poesia caseira

(18 de Outubro de 2010)

Faz tempo que não faço um poema
Desses espumosos.
Um bem borbulhante, de espuma grossa.
Há muito não tenho sabão.
Pobre de minha
jacuzzi,
Espelhada, sem corpos nus.
Pior de tudo é a pele feita em bulbo velho,
Que ainda lembro vermelha e gorda do banho passado.

Ah!

Passa o sabão em pó que vou dar um pulo na piscina.

Fobia

(12 de Outubro de 2010)

Eu tenho sempre um mesmo sonho
Em que pulo da varanda
E explodo no chão.
Sempre pulo, não sei por que;
Mesmo com as veias em risco de medo
Traçando a dianteira;
Mesmo com o sangue
Esculpindo as sobrancelhas.

E me pergunto 'por que saltarei
Se sei do chão?
Po que me inclinei entre as grades
Do pouco espaço entre mim e o vão?
Por que me deixei
Neste esparso lapso de verso
Em que desejei ser reverso?'

Só sei que sempre sonhei e pulei.

Tempero

(08 de Julho de 2010)

Discordo dos conservadores
Mas também dos modernistas.
Bom mesmo é um mix
De velho com novo:
Uma casa no campo
Com cara de apartamento paulistano;
Uma peça de teatro cinquentista
Travestida de musical da Broadway;
Uma comida caseira
Com coca-cola.
Bom mesmo é ter sempre a mesma sensação
Com um toque de emoção.