quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Conto de Amanda

O amor era piegas
Em seu viés degringolado
De passos desleixados;
Tinha dias daqueles
Tão gostosos de descuido
Em que eu mirava o rosto dele
Como quem mira um chateau francês
Ao pôr-do-sol; piegas.
Vem cravado na memória
Aquele amor de sempre,
Que todo mundo já amou
Ou quis amar,
De sorrisos bem feitos
E vidas desfeitas por um traço
De uma saudade constante;
Eram dias floridos de pura cor.
Mas... Estranho,
Dia desses de calor
Acordei meio tonteada
Numa cama que não era minha,
Um colchão endurecido,
Num quarto negro
De estranhas vozes a passar.
Eram tons tão rebuscados
Sem imagem, sem contorno,
Que me senti perdida;
E ensandecida
Gritei pelo nome de meu amor,
Que paciente respondeu
Pedindo calma e sossego;
Colou na minha mão
Pincelando um beijo em minha testa -
Senti naquele beijo doce e amargo
A história dos dias que meu tempo esqueceu;
Entendi que os dias floridos
Não teriam mais sua cor.
Fomos eu e os dias pálidos,
Murchos, secos, frios,
E trouxe embora os calafrios
Até a porta de minha casa,
Que já nem me parecia estar lá.
E cruzada a porta
Do que soava como meu perene destino,
Meu amor trouxe um buquê
Do perfume mais intenso
Que eu jamais tinha percebido,
E ao som de uma Modinha
Criou em mim a cor dos novos dias
Mergulhados em fragrância pura:
Diz que eterno morreria
Buscando em mim o seu amor.

2 comentários:

  1. Nossa, Raffa!!! Esse é um dos poemas q vc escreveu q eu mais gostei. Cheio de delicadeza, sutileza, leveza! Um ar gostoso de sentir! Amei!!!!

    E ah! Definitivamente: O amor é MESMO piegas... rs :)

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  2. Poema lindo esse! Singelo e ao mesmo tempo forte! Parabéns pelo talento!!!

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