quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Das amantes

Salve, salve, Ulisses!
Vejo que vais por aí
De trejeito, franzino, disperso
E descaminhas perplexo
Os olhos embriagados.
Ora, Ulisses chora,
Mas chora homem, esbravejando,
Pois descobriu essa noite
Que a mulher lhe roubou o quinhão.
E sofre das dores Ulisses
De ter seu amor traído
Mas sofre mais com a dor
De saber estar em contas bem pago,
Pois vale contar que também
Ulisses roubou o quinhão
Da esposa que por tanto tempo
Teve um pleno vazio nas mãos.
E esperou a donzela, paciente,
O retorno dos infindáveis empréstimos
Que homem faz quando bebe
E sai, todo esguio, na rua.
Pois bem, eis que o tempo de acertos
Finalmente para Ulisses chegou;
Perdido na casa vazia
Vê o preço que de si mesmo roubou:
De tantas amantes
Só não restou aquela
Que importava restar,
E agora, pobre Ulisses,
Vai eterno buscar conforto
Nos braços das endinheiradas
Que aceitaram quinhão alheio.
E em cada braço que pare
Vai morrer-lhe um pedaço da mente
Que lembrará pelo tempo que reste
O que restou nos braços de outro
De um amor que cansou de esperar,
Um amor não mais remitente.

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